SOBRE A DISPLASIA COXOFEMORAL

O exame radiográfico é uma técnica rotineiramente utilizada para estreitar o diagnóstico das doenças pélvicas em cães. A necrose asséptica da cabeça femoral e a displasia coxofemoral atingem essa região apresentando características clínicas e radiográficas específicas. 

Introdução

Existem duas doenças articulares principais que acometem a pelve de cães, que são a Displasia coxofemoral e a Necrose asséptica da cabeça do fêmur. Estas duas doenças apesar das diferentes em sua fisiopatologia e etiologia, atingem a mesma região – a articulação coxofemoral. O diagnóstico por imagem é indicado para confirmação desse diagnóstico e ainda para determinar a melhor propedêutica futura para esses pacientes, já que em determinada circunstancias consegue-se analisar as alterações conseqüentes, como à doença articular degenerativa.

Dentre as fundamentais diferenças de tais enfermidades, nota-se o tipo de cão que são acometidos por elas, posto que a Necrose asséptica da cabeça do fêmur atinge os cães de raças pequenos, enquanto a Displasia coxofemoral afeta cães de raças maiores, de médio a grande porte.

A displasia coxofemoral  é uma doença classificada como multifatorial. Evidentemente inúmeras outras etiologias estão associadas, tipo: hereditariedade, supernutrição (cães obesos), grau de exercício físico(exemplo, piso liso).

Até hoje se discute sobre a sua fisiopatogenia e acredita-se que a disparidade entre a massa muscular primária e o crescimento esquelético rápido gera uma alteração na biomecânica da articulação. Estes fatores geram a inflamação da membrana sinovial o que consequentemente causa um relaxamento do ligamento redondo e flacidez na cápsula articular, causando a dor e a claudicação.

O Dr. Gail Smith, após anos de pesquisa conseguiu comprovar que uma das causas relacionadas ao desenvolvimento da displasia coxofemoral é o grau de frouxidão (flacidez) de cápsula articular. Tal flacidez aumenta a instabilidade que posteriormente incide sobre a subluxação dessa articulação. Isso foi afirmado porque algumas raças não apresentam essa doença, exemplo a Galgo. Nesta raça a cápsula articular é tão rígida não gerando nenhum grau de subluxação.

Essa teoria foi mais bem sustentada com a utilização de um equipamento que mede o grau de frouxidão articular. O equipamento é chamado de Distrator – PennHIP. Com esse equipamento o diagnóstico da doença pode ocorrer anteriormente a sua manifestação clínica.

O diagnóstico da displasia coxofemoral é clínico e radiográfico. Agora vale ressaltar que em filhotes com a articulação ainda imatura o diagnóstico é mais dificultoso, principalmente em filmes radiográficos no qual não se utilizam em conjunto equipamentos que estressam a articulação como o distrator PennHIP.

A doença pode ser classificada como Bimodal, ocorrendo em animais jovens e idosos. Os sinais clínicos são: claudicação, dificuldade locomotora, perda de equilíbrio dos membros pélvicos. Quando esses sinais estão presentes geralmente os sinais radiográficos são positivos também. A maior dificuldade esta na exclusão de animais positivos para a reprodução (controle de hereditariedade).

As técnicas radiográficas mais utilizadas são: o exame radiográfico convencional e o exame radiográfico com o distrator articular. Agora, independente da técnica a ser escolhida, é sempre necessário à anestesia geral para o posicionamento correto do animal. Para esse diagnóstico é imprescindível um exame de boa qualidade radiográfico, com posicionamento ideal e isso só se faz anestesiando mesmo o paciente. É interessante salientar que em um bom protocolo anestésico associações com relaxadores da musculatura é o mais recomendado.

Para o exame radiográfico convencional se faz uma projeção ventrodorsal com os membros paralelos e em extensão, no filme deve-se incluir a asa do ílio e ainda a articulação femoropatelar. Os sinais radiográficos quando presentes são subluxação ou luxação da articulação coxofemoral (unilateral ou bilateral), e os sinais estão correlacionados a doença articular degenerativa como: identificação da linha de Morgan, colar de osteofitos pericondrais na cabeça femoral, colo femoral espessado e irregular, esclerose subcondral da cabeça femoral, arrasamento acetabular, achatamento da cabeça femoral, arrasamento acetabular, achatamento da cabeça femoral, osteofitos e entenseofitos.

Ressalta-se que para controle de hereditariedade o recomendado é que o exame radiográfico seja realizado na idade entre 18-24 meses, caso queira proceder o exame de seleção de animais indica-se pesquisa sobre as recomendações indicadas pelo Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária, no qual as normas devem ser seguidas de maneira adequada.

O método de distração PennHIP pode ser executado em animais mais jovens, sendo esse um papel importante para a técnica, detectar precocemente a doença. É permitido que o exame seja realizado em cães a partir de quatro meses de idade, entretanto o ideal seria a partir de seis meses. O realizador dessa técnica atualmente indica que quando o exame for executado em animais com idade entre 4-6 meses é interessante repetir o teste, em torno de um ano ou um ano e seis meses, atingindo-se assim maior eficiência diagnóstica.

O exame tem a função de analisar o grau de frouxidão ou elasticidade da cápsula articular. A frouxidão articular é mensurada após a promoção da distração articular com o equipamento, sendo então calculado o índice de distração (ID). É recomendado que os filmes sejam enviados ao Centro de pesquisa da Universidade da Pensilvânia.

De qualquer forma, a mensuração do ID consiste nos cálculos de medição do centro da cabeça femoral até a borda acetábulo (traçado linear) divididos pela distância do raio formado pela cabeça femoral. Este resultado indica o quanto á cabeça femoral “desloca-se” da articulação. Por exemplo, ID = 0,75, ou seja, 75% da cabeça femoral está concentrada fora da junção. Os valores ideais para ID da raça Labrador é de 0,3 e para outras raças incluindo os Pastores Alemães e Rottwaillers são de 0,4.

Em nossa rotina aplicamos a técnica PennHIP naqueles cães em que o exame radiográfico convencional deu negativo, ou em pacientes no qual á dificuldades de se determinar com segurança o diagnostico negativo, principalmente se existir variações interobservadores (mais de uma leitor não interpretar da mesma maneira no momento do exame). Desta maneira conseguimos afirmar com maior segurança a ausência da doença. Sempre realizamos o exame após a técnica radiográfica convencional, porque, se o exame convencional der positivo, não é tão interessante realizar a técnica de distração, pois prolongaríamos o tempo anestésico e estressaremos, desnecessariamente, a articulação.

Em pacientes mais velhos, cães de meia idade a idosos, sempre realizamos em conjunto com ao posicionamento ventrodorsal em extensão da pelve a projeção lateral, permitindo uma análise também da coluna lombrossacral; alguns animais podem apresentar sinais de instabilidade lombossacral concomitante. Até porque, se pensa em manejo terapêutico cirúrgico para a displasia e eventualmente se esquece de que o problema também pode estar na coluna.

Sem dúvida algumas das duas técnicas, exame radiográfico convencional e técnica da distração, são importantes para o diagnóstico da Displasia Coxofemoral, tendo cada qual sua vantagem e desvantagem.

Conclusões: O exame radiográfico é de grande valia para complementação diagnóstica das doenças pélvicas em cães. O conhecimento das suas aplicabilidades, acurácia e possíveis falhas diagnósticas auxiliam o médico veterinário no melhor planejamento e conduta para com os seus pacientes.

Artigo retirado da revista V&Z em Minas Jul/Ago/Set 2011 Ano XXI # 110, pag.35 a 39; Artigo Técnico 5.

Autor (a): Tilde Rodrigues Froes – Medica Veterinária CRMV-PR n° 7029/VS, Doutora, Profa. Adjunto III – Departamento de Medicina Veterinária – UFPR.

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